
Era noite chuvosa e fria em uma cidade de clima extremamente quente, um fenômeno nada comum para tal. Foi então que me peguei perdida e totalmente imersa em um mundo de lembranças, ora dolorosas e vastas, ora boas e marcantes, ao qual eu não me recordava que fazia parte. Decidi deixar minha mente me guiar, meus olhos logo se ergueram em direção a minha janela recém coberta por gotas da chuva fria, que o céu estava claro e limpo mas não havia uma estrela sequer para fazer com que tamanho infinito, bem além do que podemos tocar e medir, ficasse mais iluminado e brilhoso. Era de tal maneira que minha alma estava, clara, mas sem brilho.Optei por continuar a buscar, não mais no céu, algo que pudesse fazer a minha alma brilhar da forma que em momentos o céu brilhava quando coberto por estrelas mesmo sem a lua. Vasculhei estantes em busca de livros que pudessem levantar minha auto estima, escutei musicas antigas, recordei de momentos registrados em fotografias cobertas por pó em algum quadro ou parede, mas nada foi suficiente para tal fim. Deitei no jardim sentindo o frio do orvalho que cobria a grama na minha pele quente, fechei os olhos e deixei minha mente viajar no tempo. Parei na minha infância, risadas, brincadeiras, feridas beijadas pela mamãe, pureza e um vasto campo de imaginação e criatividade para um ser tão pequeno. Vaguei por ali, sorri sentindo a brisa gelada tocando meu rosto. Abri os olhos e voltei ao presente procurando, qualquer que fosse, um motivo para dar um brilho inesgotável a minh'alma. Foi então que notei o quanto minha alma parecia assombrada e fria e percebi que dali nada sairia, mas de certa forma minha alma apagada estava em paz porque sabia que havia dado todo o seu brilho no lugar de alguém que amara.