quarta-feira, 29 de abril de 2015

Chalé

Do lado de fora do chalé fazia muito frio, não havia sinal de sua chegada. Sentei na cadeira pendurada, pelas enormes madeiras do deck, esperando-a. O vento soprava alto no meu ouvido e em resposta meu corpo estremecia, o tempo passou tāo depressa que eu nem me dei conta de que adormecera, até ser acordada por um beijo gelado no alto da minha testa. Abri os olhos com dificuldade e sussurrei um oi. Ela me estendeu as mãos e entramos em silêncio, me sentei na cama, juntei minhas mãos e comecei a esfregá-las devagar  para aquece-las. Ela se aproximou, colocou minhas mãos entre as suas e as soprou calmamente, o vento quente que vinha de sua boca vermelha, as aqueceu rapidamente. Minha alma se juntou ao calor , fechei os olhos me entregando aquela sensação. Quando os abri novamente os dela já brilhavam em resposta ao encontro dos meus, respirei fundo e movimentei os lábios dizendo 'te amo', mas eu sabia que ela não podia ver , pois a única luz no quarto vinha de um feixe da janela lateral banhada pela enorme lua. Nos despimos juntas e deitamos naquele ninho de travesseiros brancos, como a neve no chão do lado de fora e adormecemos em seguida. Acordei sufocada com seus braços apertando meu peito, levantei com cautela para não acorda-la. A vista do lado de lá de minha janela, me presenteou com um nascer do sol de tirar o fôlego. Fiz algumas fotos de beleza espetacular e resolvi fotografá-la também. Ela dormia com a mão perto dos lábios, o cabelo bagunçado de uma maneira elegante e com o lençol embolado ao seu corpo. Preguei todas as fotos em uma parede ao lado da cama, para quando ela acordar ser recebida por tamanha plenitude, que era seu rosto, de vários ângulos e jeitos, perfeitos e diferentes! Sua jaqueta estava jogada sobre a cadeira marfim ao lado da lareira , peguei-a sentindo aquele cheiro conhecido de seu perfume , que era o meu favorito. Juntei-a ao meu corpo e dancei pelo quarto, parei quando ela me agarrou de surpresa e disse que eu estava linda, com aquele sorriso matinal de deixar as minhas pernas sem movimento, ganhei um beijo doce e sorri de volta. Após correr seus belos dedos pelas fotos,  abrimos a janela e sentamos com a nudez ao sol, contemplando aquela plenitude e desejando dali, não mais sair.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Alma

  Era noite chuvosa e fria em uma cidade de clima extremamente quente, um fenômeno nada comum para tal. Foi então que me peguei perdida e totalmente imersa em um mundo de lembranças, ora dolorosas e vastas, ora boas e marcantes, ao qual eu não me recordava que fazia parte. Decidi deixar minha mente me guiar, meus olhos logo se ergueram em direção a minha janela recém coberta por gotas da chuva fria, que o céu estava claro e limpo mas não havia uma estrela sequer para fazer com que tamanho infinito, bem além do que  podemos tocar e medir, ficasse mais iluminado e brilhoso. Era de tal maneira que minha alma estava, clara, mas sem brilho.Optei por continuar a buscar, não mais no céu, algo que pudesse fazer a minha alma brilhar da forma que em momentos o céu brilhava quando coberto por estrelas mesmo sem a lua. Vasculhei estantes em busca de livros que pudessem levantar minha auto estima, escutei musicas antigas, recordei de momentos registrados em fotografias cobertas por pó em algum quadro ou parede, mas nada foi suficiente para tal fim. Deitei no jardim sentindo o frio do orvalho que cobria a grama na minha pele quente, fechei os olhos e deixei minha mente viajar no tempo. Parei na minha infância, risadas, brincadeiras, feridas beijadas pela mamãe, pureza e um vasto campo de imaginação e criatividade para um ser tão pequeno. Vaguei por ali, sorri sentindo a brisa gelada tocando meu rosto. Abri os olhos e voltei ao presente procurando, qualquer que fosse, um motivo para dar um brilho inesgotável a minh'alma. Foi então que notei o quanto minha alma parecia assombrada e fria e percebi que dali nada sairia, mas de certa forma minha alma apagada estava em paz porque sabia que havia dado todo o seu brilho no lugar de alguém que amara.