quarta-feira, 29 de julho de 2015

Anônimo

Todos os dias pela manhã, eu não sabia exatamente o horário, eu encontrava uma carta em meu jardim. Elas nunca eram colocadas na caixinha de pedra branca, feita especialmente para elas, ao lado do portão e eu não compreendia o motivo daquilo. Já fazia mais de um mês que eu havia começado a recebê-las. Eram cartas anônimas, escritas no computador e impressas em um papel pardo. Cada carta falava de uma forma de amor, mas uma vez por semana a tradição era quebrada e uma delas falava de coisas que vinham antes ou iam além de tal. Haviam cinco cartas que não abordavam o contexto clichê do amor, uma falava da solidão e dizia que a existência da mesma era consequência do amor mal expressado. A outra falava do sofrimento e dizia que era impossível amar sem sofrer o mínimo que fosse. A terceira falava da paixão, que era uma zona onde as pessoas se confundem e que antes de começar a amar já caem na solidão e no sofrimento ao mesmo tempo. A quarta falava da enganação, que no caso era a junção das três primeiras. Já a última, chamou muito a minha atenção, pois falava do contentamento e do amor não correspondido e é claro que todas as quatro primeiras definições estavam inclusas nessa zona, lá dizia que era inútil lutar por amor quando se estava nesse estágio. Bem no finalzinho da carta, em letras minúsculas, me fez compreender o motivo de tudo aquilo, dizia que quem as escrevera era um alguém que havia passado por todas as zonas e agora estava preso na última delas, pois nunca havia de mim recebido uma só resposta. Antes que eu pudesse me perguntar como um anônimo queria que eu o amasse, havia outro lembrete que dizia que ele nunca se manifestara porque sempre encontrava as cartas no lixo jogadas, preenchendo-o com o amor que ele me enviava.