sábado, 20 de fevereiro de 2016

Vozes

Em algum lugar dentro da minha cabeça havia vários tipos de vozes. Estava cada vez mais difícil acompanhar aquele ritmo que não tinha sincronia nem concomitância, aquele pequeno espaço estava virando um verdadeiro pandemônio. Os momentos estavam ficando distorcidos na minha mente. Eu não conseguia mais separar minhas lembranças, não sabia definir as coisas que vinham acontecendo em escalas de gravidade ou simplesmente qual eu deveria resolver primeiro, talvez ainda pensando se deveria resolvê-las. Não havia nada que pudesse me distrair daquela confusão mental, todos os sentimentos estavam misturados, sem definição e sem prévia para o fim. Eu não tinha mais noção das minha ações, palavras, movimento, eu não era capaz nem de fechar os olhos para tentar pensar. Os gritos aumentavam cada vez mais na minha cabeça. Tentei por diversas vezes esvair parte dessas vozes, tentei canalizar, tentei de tudo mas falhei em todas elas. Resolvi desligar tudo a minha volta e fui me banhar no feixe do por do sol que banhava minha janela, sentei ali e por fim consegui fechar os olhos, mas desta vez eu não tinha lutado contra as vozes, eu deixei que elas me guiassem. Permaneci de olhos fechados e deixei o vento e o calor do sol serem a certeza de que eu estava realmente respirando. Quando abri os olhos já não tinha mais sol, agora eu estava sendo saudada com uma lua absurdamente grande e brilhante. As vozes também haviam sumido e eu sabia que elas não tinham ido embora com o sol. Eu também tinha consciência que mesmo não tendo percebido como e quando, a única forma de acabar com aquela bagunça mental era parando de lutar, era deixando que as vozes percebessem por si só que elas não pertenciam aquele lugar e que no fim, exclusivamente, somente a minha voz seria ouvida.