Não tinha cor, nome, explicação, definição ou analogia. Simplesmente não tinha nada, mas não era um nada de vazio e nem de solidão, eu só não sabia como explicar a vastidão daquele vago que as palavras não podiam preencher. Eu não sabia se estava dependente, viciada, ou sei lá como classificar aquilo que eu estava sentindo. Eu só sabia que não haviam palavras que pudessem enaltecer tudo aquilo que estava acontecendo dentro de mim. Eram sorrisos, suspiros, brilhos nos olhos, magia na fala e uma balançada na alma, uma dança rítmica divina de todas essas ações involuntárias e conectadas em um passo só. Ela era o motivo de o sol nascer brilhante e vibrante, de as flores se abrirem, do balanço das copas das árvores, da dança na mata, da junção do ar e da terra em uma apresentação na gravidade, do canto dos pássaros, da poesia da paisagem do lado de fora da minha janela, da brisa fria do vento, da orquestra da natureza, da lua mais linda e cheia, da festa das estrelas e do movimento do universo, do meu pequeno universo. As cores tiveram outros tons para mim. Os tons frios já não eram mais tão frios e tristes, o branco, o cinza e o preto se tornaram os tons da sua pele, do seu sorriso, do seu cabelo e de suas lágrimas. Era uma imagem clássica e perfeita de uma arte sublime e totalmente realística. A dança das cores quentes em sua pele era a minha parte favorita. O vermelho que tingia desde seus lábios até a ponta dos seus dedos, davam a sua aparência um tom glorioso de uma pele sensível, macia e quase que intocável. O rosa que enrubesce em suas bochechas era o tom que mais combinava com sua pele pálida e aveludada. Mas as cores frias também lhe davam um charme. O roxo em contraste com a delicadeza de sua pele transbordava calmaria e serenidade, em contraste com o azul apresentava uma analogia perfeita do encontro do céu e do mar e em contraste com o verde representava a paz e o equilíbrio com a mãe natureza. Ela e as cores eram uma sintonia perfeita, uma mistura fantástica de tudo que há de mais divino do lado de cá. A vida e a sua beleza nunca foram tão extraordinárias, até que o arco íris em seu corpo apresentou a verdadeira paridade do equilíbrio entre o amor e a arte.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
Vidraça
Do lado de lá da imensa vidraça do meu quarto, estava a mistura mais linda das cores, todos os tons se misturando em uma sincronia hipnotizante. As escalas pendiam-se do vermelho ao laranja, do roxo ao rosa e do azul ao branco. Sentada na minha poltrona com uma xícara de chocolate quente nas mãos, entre a fumaça que se dissipava por cima dos meus olhos, eu observava aquele espetáculo de tirar o fôlego. Fechei os olhos para curtir aquele perfume inebriante das flores, mas quando os abri o balé das flores havia cessado, o perfume sumido e as cores também. Preto e Branco, aonde eu estava? Eu não conseguia distinguir que lugar era aquele. Era frio e cinzento, como o inverno passado e tinha uma pessoa muito parecida comigo parada olhando fixamente pra mim. Era o meu reflexo? Porque ele não repetia meus movimentos? Um frio percorreu minha espinha arrepiando até o último fio de cabelo do meu corpo. Encarei a figura que se parecia comigo e caminhei em sua direção para tentar toca-lá. Ela não se movia, então toquei gentilmente em sua mão e de repente eu já não estava mais ali. Era como se eu tivesse fora do meu corpo e fosse a plateia da minha própria memória. Que tipo de pessoa eu havia me tornado? Porque era mais fácil deixar as pessoas irem do que insistirem para elas ficarem? Porque eu permitia que o orgulho me consumisse? Desde quando foi mais fácil esconder sentimentos? Porque eu havia me tornado a minha própria prisão? O que o amor representava pra mim? Quando foi que parei de confiar nas pessoas e em mim mesma? Permaneci no canto daquele lugar desconhecido, assistindo às fases da minha vida. As pessoas que se foram, os amores que se esvaiam, os vazios que ninguém preenchia, o amor que talvez eu nunca sentiria, a solidão que me consumia, o arrependimento que me punia, o grito que me ensurdecia, o socorro que minha alma pedia, as diferentes sombras que me perseguiam, as dores que me absorviam e as humilhações que me diminuíam. Quem eu fui, quem eu era e quem eu seria? Fechei os olhos, respirei fundo e quando os abri novamente, caminhei para uma luz que apareceu no lado esquerdo daquele lugar, atravessei-a e forcei meus olhos a se acostumarem com a nova cor que tingia diante deles. Eram os tons quente, preenchendo o vazio que meus olhos haviam presenciado há alguns minutos atrás. Amarelo, laranjado e vermelho. Parei no canto, mais uma vez, entre o laranjado e o vermelho, assistindo a um momento diferente da minha vida. Um momento do qual eu havia esquecido completamente que existia dentro de mim. Sorrisos, aventuras, lembranças, paixões e amor. Uma lágrima queimou contra a minha pele fria e pálida. O amor existiu de diversas formas. Ele foi paciente, com um silêncio ensurdecedor, carente, pacifico, passivo, inovador, restaurador e com uma beleza que enaltecia tudo que tentava me antagonizar. Fechei os olhos e senti o perfume das flores ficando cada vez mais familiar, abri os olhos, o chocolate quente, agora estava frio, o balé das flores lento, pois suas pétalas haviam sido cobertas pelo orvalho da chuva e suas cores entorpecidas pelo vento, que ministrava uma orquestra incomparável. Do lado de lá da vidraça do meu quarto eu deixei meu reflexo imóvel e do lado de cá eu me ergui. Caminhei devagar e encostei meu corpo quente contra o vidro frio e senti a onda de uma corrente gélida o invadir, causando calafrios e uma certa anestesia. Optei por deixar aquela camada delicada de vidro separar de mim os mundos que haviam se tornado um paralelo entre quem eu fui e quem eu era.
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