terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Submissão

A situação já estava totalmente fora de controle, já não era possível caminhar com as próprias pernas, falar com a própria boca e fazer as próprias regras. Toda e qualquer atitude que eu decidisse tomar estava sob o domínio e o poder de toda aquela subalternidade que eu mesmo permiti acontecer. Eu cedi quando eu não deveria, aceitei o que eu não queria, mas minha boca não me permitia emitir som para negar aquela subordinação. Decidi cair no buraco que eu mesmo cavei e deixei que aquela situação me enterrasse naquela escuridão, minha única opção, e a mais inteligente de fato, era obedecer, me sujeitar a toda aquela humilhação que eu mesmo escolhi viver. Eu sabia que seria difícil aceitar o fato de que eu gostava da dor que vinha dali, mas ao mesmo tempo eu não a queria. Não era só físico, era espiritual também e era muito degradante viver todo aquele vexame. Eu ainda não tinha certeza se as pessoas já foram espertas o bastante para notar que eu não caminhava sozinha, que minha boca não falava por si só e que minhas decisões não eram tomadas por mim mesmo. Para mim tudo parecia óbvio demais e eu tinha certeza que meu reflexo não mentia, pois todas as vezes que eu olhava no espelho, atrás de mim havia uma outra imagem, aquela que revelava toda a submissão que o meu passado não me permitia sair. Foi então que me dei conta que a minha prisão era individual, que ninguém via o mundo no qual eu vivia e que a única solução para todo aquele estado depressivo e carnal era me submeter a essa nova vida que tiraria de mim a única coisa que me provava que tudo que vivi foi real, a dor!

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