Fazia mais de uma semana que a chuva caia constantemente, sem tréguas. As vezes apenas caia mais fraca, mas nunca parava. Todos os nossos encontros foram desmarcados em consequência disso, pelo menos era o que ele alegava. Eu não devia acreditar no que ele dizia, mas de uma forma estranha eu não sentia vontade de questioná-lo sobre isso, eu apenas assentia com a cabeça e esperava pela "próxima" vez, apesar de ter noventa e nove por cento de certeza de que não chegaria, eu deixava o único um por cento restante me manter esperançosa. A chuva não deveria ser um obstáculo, deveria ser um incentivo, ele poderia vir até a minha casa ou eu poderia ir a casa dele, mas isso nunca foi uma opção relevante. Depois de tantas tentativas, eu decidi que estava na hora de parar de esperar e resolvi dar uma volta. Naquela sexta-feira a tarde, ainda chovia, mas eu decidi sair assim mesmo, peguei meu guarda-chuva e fui andar em uma praça próxima da minha casa. Parei em um quiosque, no qual costumávamos ir juntos para comprar um café, e foi ali que eu o vi, saindo da casa de uma pessoa desconhecida pelos meus olhos, mas pelo visto muito conhecida pelos olhos dele. Como eu não tinha pensado nisso antes? Passou todas as possibilidades em minha cabeça, menos a de que ele pudesse estar comprometido com um outro alguém. Quando seus olhos encontraram os meus, que já estava banhado de lágrimas, eu deixei tudo que tinha em minhas mãos cair. Quando percebi que ele caminhava em minha direção comecei a correr na direção oposta ao caminho da minha casa, com o cabelo encharcado e a roupa colando no meu corpo, fiz um sinal para que ele parasse, estávamos há alguns poucos metros de distância, ele parou, tentou caminhar para mais perto e eu gritei que não, ele não insistiu mais. Continuei andando pela chuva sem olhar para trás, sem sentir nada, exceto a lágrima que ardia em minha pele fria. E ali, há poucos metros do nosso café favorito, em nossa praça favorita eu vi a chuva levar embora meu único um por cento de chance de acreditar que poderíamos ser felizes.
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