Fisicamente eu não sentia nada. Dor, frio, cócegas, calor, arrepios, eram sensações desconhecidas por mim no momento. Eu poderia classificar essa falta de sensibilidade como uma espécie de anestesia, apesar de não saber ao certo o motivo. Mas espiritual, mental e psicologicamente eu estava devastada. Um tsunami de sensações, que eu nunca imaginei sentir, rolava dentro da minha cabeça, meu coração estava oco e frio e o som que vinha de dentro dele ardia em meus ouvidos e martelava na minha cabeça sem dar trégua. A cada momento o espaço, apesar de vazio, ficava mais apertado trazendo consigo uma nova onda, que ao invés de levar o que me consumia, trazia uma carga maior para preencher aquele vazio comprimido dentro de cada lugar do meu corpo. Eu não conseguia agir, fisicamente eu estava petrificada pela falta de percepção e isso me impedia de movimentar. Por dentro eu estava cada vez mais consumida, em uma luta interminável com os abalos trazidos pelas lembranças. Razão, emoção, dúvidas, alegrias, dor, saudade, tristeza, entre milhares de outros sentimentos que eu não sabia como classificar. Era impossível me mover, era impossível chorar, era impossível sorrir, era impossível tornar alguma ação possível e a cada segundo uma parte de mim morria. O som do eco do meu peito queimava em meus ouvidos e invadia minha cabeça de uma forma ensurdecedora, tapei meus ouvidos e comecei a gritar para mim mesmo que tudo aquilo não era real. Quanto mais eu aumentava a intensidade do grito, mais alto o eco ficava. Resolvi me entregar, pois a única saída daquela prisão doentia, era para de tentar ir contra. Desisti de lutar, desisti de tentar entender, desisti de impedir as sensações de rolarem. Deixei que a anestesia física entrasse e entorpecesse meus sentidos como uma droga, que atingisse cada lugar do meu corpo e matasse por um momento o que estava tentando me matar.
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