Sim, eu não podia negar que estava viciada, que havia me entregado de forma irrestrita e incondicional. Desde o começo eu sabia que seria algo venenoso, mas não era um veneno ruim, era algo que me dava poder e controle de manter minha sanidade saciada. Eu repetia aquele ciclo de duas a cinco vezes por dia, de forma jubilosa, mas mesmo que tudo estivesse do jeito que eu adorava, com todas as possibilidades e direitos que eu poderia ter, meu ego nunca estava totalmente satisfeito. Tentei fugir daquela sensação que me perseguia onde quer que eu fosse, visitei diferentes lugares, pessoas e descobri que a distração não resolvia o meu caso. Quando eu finalmente conseguia, mesmo que por pouco tempo, uma válvula de escape, aquele veneno, que era o meu vício diário, aparecia de diferentes maneiras para me provocar, tirar de mim a paz que eu buscava para não cair em tentação e quando eu percebia já era tarde demais. Eu sempre cedia no final, me entregava aquele mar de descobertas, que mesmo sendo praticadas todos os dias, me ensinava algo novo. Estava penoso correr da realidade que piscava em letras grandes em minha testa, eu já tinha viciado e tinha consciência de que o prazer gerado por aquele veneno era doce e irresistível e tentar esquivar daquele mundo que me pertencia nunca foi uma opção relevante.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Assassino
Os sintomas eram diferentes, as dores vinham em tempos curtos, mas o objetivo era o mesmo. Eu não tinha mais opções para escolher o lado positivo, todos os sintomas eram negativos e a única coisa positiva capaz de ser tirada do meio de tudo aquilo, era que toda aquela negatividade me fazia bem. Na verdade, não era coerente afirmar que aquilo fosse de fato algo que me favorecesse. Acho que isso era só uma forma de enganar meu consciente afetado, de alimentar aquele ego ferido, que não pensava na morte, mas a mantinha como opção, mas não era uma morte física, era espiritual. Aqueles sintomas constantes não me permitiam pensar com sanidade a maior parte do tempo, viver sob a sombra de um passado que não te trás lembranças boas é a pior parte de saber que o tempo todo, nada do que você imaginava tinha realmente acontecido. Aquela nuvem negra que pairava sob a minha cabeça vazia, só me mostrava o quão ruins as coisas haviam sido, todos os flashs que apareciam diante dos meus olhos, passavam um pequeno filme de terror do qual eu fui o personagem principal. O papel que desenvolvi, mesmo sem perceber, foi o pior, sofrendo calado, correndo para o perigo ao invés de correr dele, perdoando o predador, mesmo sabendo que o alvo era eu, e para completar o âmbito de caos total, vivendo com o próprio assassino. As pessoas gritavam diante das câmeras para que eu corresse para elas, mas eu escolhi correr para o meu assassino, eu sabia dos riscos que eu corria, mas a maldade dele era uma espécie de hipinose. Minha mente não conseguia pensar racionalmente diante dos seus olhos frios e aquele sorriso malicioso, que eu sabia que não era para mim e sim de mim. Mas eu o escolhi, corri para o seu lado, eu sabia das consequências, mas escolhi o perigo e foi então, ali na escuridão da noite, que eu descobri como o amor morria, nos braços de alguém que me abraçava, segurando uma faca na mão, escondida dos meus olhos, para arrancar de mim em pedaços a parte que eu lhe entreguei inteira, meu coração.
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Cores
Meus olhos enxergavam cinza, minha mente branco e minha alma o preto. Todos os tons da solidão e da tristeza refletidos em diferentes escalas e em diferentes partes. Eu já havia tentado de todas as formas possíveis, fazer com que aquelas cores, ganhassem vida. Na verdade, eu não sabia se podia classificá-las como cores, era tudo tão opaco, esmaecido, desvigoroso e inexpressivo, mas de uma forma enigmática aqueles tons insípidos me faziam querer buscar pela felicidade, ou pelo menos por parte dela. Eu tive que viver todos os tons de cinza e preto, porque o branco não tinha outro tom, ele só era branco, se estivesse encardido já não seria mais branco. Aqueles mesmos tons me mostraram que mesmo não sendo capazes de trazer alegria, a primeira vista, era a única saída do mundo sombrio que aquelas cores passavam só pelo fato de serem tristes, mas se elas não existissem a alma jamais aprenderia a ser feliz. Aquelas cores que borravam o meu mundo foram o motivo de eu querer continuar a buscar por outros tons, tons que criassem um outro mundo onde as cores da solidão fizessem parte dele.
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