Éramos amigos, o carinho fluía de uma maneira que eu jamais seria capaz de explicar. Ele era a maior parte do melhor de mim, ele era meu melhor amigo. Eu não sabia como esconder minhas emoções, não sabia conter o que eu sentia e muitas vezes eu não percebia as proporções que tomavam, até agora. Hoje decidimos andar pela praça que interligava o caminho de nossas casas. O dia, apesar de nublado, nos saudava com um belo arco-íris e um vento frio que arrepiava o corpo, mas nos mantinha mais próximos um do outro. Enquanto caminhávamos ele segurou a minha mão, a sensação que eu senti foi diferente das outras vezes em que estivemos ali. Da última vez que passeamos por aqui ele me beijou e desde então o mundo que eu enxergava dentro de seus olhos, mudou. Agora ele girava mais devagar, era mais colorido e ecoava uma melodia maravilhosa em consequência de cada piscada. Paramos no meio da praça e ele me abraçou, senti aquele cheiro tão conhecido e o segurei por mais alguns segundos em meus braços, mas ele me soltou, o abraço dele foi diferente do costumeiro. Ele me olhou nos olhos e pediu que os fechasse, obedeci. Aproveitei aquele momento, estávamos sozinhos e o tempo estava a favor do que eu gostaria de dizer para ele, deixei escapar "eu te amo", mas de seus lábios o som foi outro, "estou indo embora", meu sorriso desapareceu. Senti o mundo sumindo debaixo dos meus pés e foi como se não tivesse mais gravidade. Uma estaca foi cravada em meu peito. Eu não sabia como reagir, meus lábios secaram e minhas mãos tremiam. Ele segurou-as entre as suas e beijou a minha testa. Vagarosamente as soltou e se foi. Fiquei ali, no centro de nossa ligação, o vendo partir. A ponte se quebrou, o elo se rompeu e o amor dele por mim, morreu. Era tudo tão perfeito até o meu melhor amigo se tornar o meu amor.
terça-feira, 14 de junho de 2016
quinta-feira, 9 de junho de 2016
Daltônico
O mundo através da minha janela me saudava com uma campina recheada de flores. Era tudo colorido e o perfume que aquele vasto campo exalava, era inexplicável. Ao final daquela extensão, cruzando com a linha da terra, estava o mar, uma imensidão fria e azul. Lembro-me de perder a cor do céu, o azul foi nublado pelo anuviado cinzento. Mas a retirada das cores estava longe de acabar. Meus olhos acompanhavam vagarosamente o vermelho, o rosa e o amarelo das flores se escurecerem. O verde da grama e das folhas foram se tornando cada vez mais turvo. Virei-me para o mar, aquela vastidão azul e serena, e vi sua linda cor juntar-se com o cinza do céu. Comecei a caminhar em direção ao mar, pois eu queria ver de perto o tom que a água tinha alcançado. Estava muito escura, assentei-me na grama e a toquei, estava muito mais fria do que eu imaginava. A cor que o cobriu era tão escura, que parecia um enorme espelho. Meu reflexo se deformava em conseqüência do balanço das ondas, ora para lá ora para cá. Um vento muito forte e gelado percorreu minhas costas, arrepiando cada fio do meu corpo. Fechei os olhos para receber a brisa em meu rosto. Senti uma gota fria rolar pelo meu rosto, abri os olhos, agora era a chuva que me saudava. Levantei-me e corri pela campina, sentindo as pétalas gélidas das flores cortando minha pele, o vento frio beijando meu rosto e a chuva gelada ensopando minhas roupas. Parei no meio das flores e me virei novamente para o mar. Uma onda começou a se formar em meio a tempestade e juntas iniciaram uma dança de tirar o fôlego. Deitei em meio as flores e fui inebriada por aquele perfume sem nome. A chuva estava diminuindo aos poucos. Fechei os olhos e me permiti sentir o quão especial era poder, talvez, ser a única a desfrutar aquela sensação de liberdade. Acordei sentindo um vento frio soprando em meu ouvido. É claro, eu havia me esquecido de fechar a janela e minha poltrona nunca havia sido tão confortável. As cores estavam todas de volta, a fronteira entre a linha do mar e da campina, hoje, havia se tornado sem graça. As flores estavam geladas e agora tinham cor. Arranquei uma rosa vermelha e a levei para meu quarto, deixei que ela descansasse no mesmo lugar em que eu estava há minutos atrás, e quando ela escurecesse, eu a olharia fixamente em busca do meu mundo sem cor.
terça-feira, 7 de junho de 2016
Controvérsia
Certa vez me pediram para definir solidão, felicidade, amor, ódio e a vida. Na hora fiquei sem entender o fundamento de tal coisa, mas prometi que quando eu soubesse o que dizer, responderia. No caminho de volta para casa começou a chover, mas eu estava com muita pressa para chegar e poder pensar em como eu responderia tamanho desafio, que não esperei que a chuva diminuísse ou passasse, simplesmente continuei meu caminho sem medo do que molharia ou não. As gotas de chuva estavam bem fortes, as ruas desertas e as árvores dançando em um movimento continuo para um único lado, ali fui capaz de definir o que era a solidão. Olhando tudo ao meu redor, percebi que a única presença real ali era a minha, bem no meio da estrada, e então a solidão me acompanhou. Enquanto eu caminhava lutando contra o vento que cortava minha pele, eu compreendi que a solidão faz parte do trajeto até a felicidade. Ninguém é cem por cento feliz, ninguém é capaz de alcançar a felicidade sem antes conhecer um pouco da solidão, para chegarmos lá, temos que ter passado por "cá", para equilibrarmos a fronteira entre quem somos e quem nos tornaremos quando finalmente encontrarmos e sentirmos a felicidade, porque a solidão é o colo que acolhe e que nos carrega até lá. A felicidade é a sala preparatória para ditar sobre o amor, pois quando a felicidade toma conta do coração, o amor não é mais utopia. Quando o amor toma conta do cérebro e espalha citocina pelo corpo, os movimentos se tornam involuntários e tudo quanto é ação é restritamente feita em consequência disso. As vezes os efeitos desencadeiam o ódio, que apesar de ser uma palavra muito forte, caminha juntamente com o amor, que se um dia for iludido, quebrado ou magoado, quem o substituirá será o ódio, que consome todo o sentimento bom que existia e o transforma em uma vontade avassaladora de nunca mais querer amar alguém. A falta de amor e a presença do ódio, bloqueia o cérebro de pensar racionalmente, arrancando de nós um lado cujo ninguém conhecia. A vida é só o ciclo que move tudo isso. Metamorfa, sorrir, chora, caminha, para, vai e vem, e no final tudo passa a valer a pena, porque na vida o tempo não espera e o único ciclo que não podemos parar é a morte.
Assinar:
Postagens (Atom)