O mundo através da minha janela me saudava com uma campina recheada de flores. Era tudo colorido e o perfume que aquele vasto campo exalava, era inexplicável. Ao final daquela extensão, cruzando com a linha da terra, estava o mar, uma imensidão fria e azul. Lembro-me de perder a cor do céu, o azul foi nublado pelo anuviado cinzento. Mas a retirada das cores estava longe de acabar. Meus olhos acompanhavam vagarosamente o vermelho, o rosa e o amarelo das flores se escurecerem. O verde da grama e das folhas foram se tornando cada vez mais turvo. Virei-me para o mar, aquela vastidão azul e serena, e vi sua linda cor juntar-se com o cinza do céu. Comecei a caminhar em direção ao mar, pois eu queria ver de perto o tom que a água tinha alcançado. Estava muito escura, assentei-me na grama e a toquei, estava muito mais fria do que eu imaginava. A cor que o cobriu era tão escura, que parecia um enorme espelho. Meu reflexo se deformava em conseqüência do balanço das ondas, ora para lá ora para cá. Um vento muito forte e gelado percorreu minhas costas, arrepiando cada fio do meu corpo. Fechei os olhos para receber a brisa em meu rosto. Senti uma gota fria rolar pelo meu rosto, abri os olhos, agora era a chuva que me saudava. Levantei-me e corri pela campina, sentindo as pétalas gélidas das flores cortando minha pele, o vento frio beijando meu rosto e a chuva gelada ensopando minhas roupas. Parei no meio das flores e me virei novamente para o mar. Uma onda começou a se formar em meio a tempestade e juntas iniciaram uma dança de tirar o fôlego. Deitei em meio as flores e fui inebriada por aquele perfume sem nome. A chuva estava diminuindo aos poucos. Fechei os olhos e me permiti sentir o quão especial era poder, talvez, ser a única a desfrutar aquela sensação de liberdade. Acordei sentindo um vento frio soprando em meu ouvido. É claro, eu havia me esquecido de fechar a janela e minha poltrona nunca havia sido tão confortável. As cores estavam todas de volta, a fronteira entre a linha do mar e da campina, hoje, havia se tornado sem graça. As flores estavam geladas e agora tinham cor. Arranquei uma rosa vermelha e a levei para meu quarto, deixei que ela descansasse no mesmo lugar em que eu estava há minutos atrás, e quando ela escurecesse, eu a olharia fixamente em busca do meu mundo sem cor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário