Já era manhã quando o sono resolveu chegar, eu não tinha conseguido pregar os olhos a noite inteira, imersa em pensamentos e lembranças que atordoavam minha mente. Coloquei o travesseiro sobre minha cabeça e permaneci assim por um tempo, tentando sufocar meus pensamentos na escuridão macia daquele objeto. Eu me sentia assim fazia um bom tempo, em uma escuridão, que de alguma maneira me fazia querer permanecer nela para sempre. O destino era algo tão cruel, que mesmo mediante as escolhas certas, eu não havia alcançado meus objetivos. Eu estava cansada de fracassar, de agir como se estivesse completa e imensamente feliz. Meu sorriso era uma farsa e um impulso para me fazer lutar contra a sombra daquela escuridão vazia, agindo também como uma forma de descobrir como sair e o motivo que, mesmo estando sem luz e vida, me fazia querer ficar. Quando retirei o travesseiro de minha cabeça, fiquei observando o teto impassível e percebi que o que me segurava lá, era a falta de sanidade, para enxergar a realidade que eu deveria enfrentar. De certa forma isso confortava meu coração, fazendo com que ele optasse pela escuridão que o cegava, enganava e o deixava desligado dos problemas lá fora, porém a única coisa que podia me fazer sair, era o mesmo motivo que havia me feito entrar.
segunda-feira, 22 de junho de 2015
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Dor
O sofrimento é necessário em alguns momentos da vida, agindo como lição e as vezes como uma válvula de escape. A dor ensina a ser forte,
independente e mais experiente, no ponto em que começa a ser uma grande ferida,
chorar não é vergonha, perder não é ser fraco, desabafar não é ser ingrato e sorrir não significa que se está feliz. A vida tem vários ciclos, nascer e morrer, plantar e colher, causa e consequência, são tantos que fica difícil escolher qual completar
primeiro. O destino é consequência das escolhas que fazemos e do caminho que
traçamos. O sofrimento é também, uma maneira de desligar-se do mundo e
encontrar um ponto de paz na dor, no escuro dos olhos fechados, no coração partido, nas lembranças que atormentam e nas cicatrizes
das feridas deixadas. A alma com a aura escura, quase se apagando, descobre uma forma de voltar a viver a realidade de um mundo cruel e cheio de gente vazia, para recomeçar o que ficou incompleto.
segunda-feira, 15 de junho de 2015
Infância
O dia estava bom, comparado aos anteriores que só chovia e fazia frio, a luz daquele sol tocava minha pele e a sensação era muito boa. Mas eu não havia saído de casa apenas pelo sol, eu queria visitar um lugar antigo que eu gostava de ir quando criança para brincar e ler. O lugar tinha uma árvore enorme, que fazia uma sombra maior ainda que sempre nos acolhia. Estava eu ali, diante do meu passado, tentando não pensar no futuro, caminhei até lá e encontrei no tronco da árvore, a marca que eu e uma amiga fizemos na infância. Sentei e fiquei observando aquele lugar, lembrando de como era gostoso não saber o significado de problemas. Quando caia, levantava limpava a sujeira da roupa e voltava a brincar, se machucasse mamãe dava o beijo que ''cura'' e dizia que tudo ia ficar bem. Mas sempre vinha aquele assunto de querer ser adulta, querer crescer e ser alguém, um desejo que toda criança almeja, sem saber que nada é como imaginamos ser. Queremos liberdade e ganhamos a prisão, queremos amor e recebemos ilusão, desejamos o bem e nos desejam o mal, entre muitas outras coisas que sonhamos e que não é fácil de conseguir. Descobrimos tarde demais, que o mundo não é uma máquina de realização de desejos e que as pessoas nem sempre são quem aparentam ser. Fiquei ali desejando voltar a minha infância, onde minha preocupação era se no dia seguinte eu poderia continuar a brincar. Agora o que me resta é apenas a vontade que não consola e uma realidade que esconde o passado e nos da como foco principal a ilusão de um clichê que tudo um dia vai mudar.
quarta-feira, 10 de junho de 2015
Mundos
Cansaço já não era a palavra certa para descrever meu estado de espírito. Todos os dias eu deixava o café esfriar, a fumaça dissipava em meu rosto e o aquecia com o vapor. Fazia um certo tempo, não sei ao certo o quanto, que o café não me servia mais como bebida, mas sim como um enfeite em minhas mãos ou em minha mesa. Eu já não sabia o que fazer, leituras, filmes e textos de minha autoria, já faziam parte de um lado oculto em meus dois mundos, real e imaginário. Comecei a sentir-me no meio de meus dois universos, em uma linha que ninguém pisou antes, a ponto de me sentir tão pesada que nem a falta de gravidade me fazia flutuar. Acordei dessa transição, indecisa de meus atos futuros e sem muita recordação dos meus atos passados, que provavelmente, eram a causa de meus devaneios. E ainda mais intrigante, era eu não entender, desde quando me tornei esse tipo de pessoa, que não sabe o mundo que pertence. A minha única certeza, era que eu pertencia a um mundo que eu não podia viver, como o que visitei em meu momento de transição. Lá ele fazia de mim um ser totalmente sem capacidade de definir as coisas da forma que elas realmente são e isso me deixava viver, sem ter que conviver, com a dor que o mundo real passa, através de descobertas que as ações do cotidiano provocam em nossa alma, dando a ela um cansaço sem data para ter um final.
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Infinito
Eu já tinha lido, visto e ouvido, muitas coisas que tentavam descrever o infinito. Certas definições eram aceitáveis, mesmo que clichês, outras eram sem sentido e algumas raramente, na teoria, eram totalmente corretas. Mas eu queria mais, minha curiosidade ia muito além de livros e frases feitas. O infinito era de fato, algo inesgotável, em algumas hipóteses. O amor, geralmente, se encaixa neste contexto, mas em alguns casos, é pura utopia, cria e fantasia-se lugares, que as mãos não podem alcançar. Mas nas aventuras, amizades e descobertas, só tem fim se a gente quiser. Existem tantas comparações, que passei uma tarde, definindo em escalas o conceito de infinito, em minha cabeça. A noite chegou e eu só notei, porque abri as venezianas, a lua estava enorme, iluminando a colina, que me saudava com uma bela vista, todos os dias. Decidi ir até lá, sentei no topo e fiquei observando a lua, depois andei mais para baixo e entrei em um caminho todo florido, fascinada com a cor que as flores ganhavam, com a luz do luar. Fixei meu olhar no final do caminho, até minha mente definir por si só, a própria definição de infinito. Ao fim de minha transição, entre o real e imaginário, descobri que o infinito era só uma palavra criada para a extensão de ações e mundos que não se pode tocar e cruzar.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Sombra
Sob a luz da lua, eu observava minha sombra, que não se movia junto comigo, em nenhum movimento que eu fazia. Permanecia intacta, sob qualquer circunstância. Achei estranho, mas mesmo assim continuei meu caminho de volta para a casa. Minha sombra, permaneceu ali, no lugar do qual havia acabado de sair, não hesitei, só continuei meu trajeto até parar em meu quarto. Sentada, perto de minha janela, fiquei observando a lua, tentando entender, porque minha sombra havia sido roubada de mim. Deitei e pensei por um breve momento e lembrei-me de uma frase que tinha lido em um livro antigo, que meu pai havia me dado, ''A sombra só servirá de companhia, até que sua alma descubra um meio de encontrar seu próprio reflexo''. E foi a partir daquela recordação, que eu percebi que minha alma tinha encontrado seu reflexo, que a sombra só seria uma mancha em minha memória, que em momentos desapareceria no escuro, como lembranças ruins ficam no passado. De certa forma, minha sombra não tinha sido roubada e sim ficado no escuro, até que minha alma precisasse dela, para novamente sustentar o reflexo perdido por falta luz interior.
quarta-feira, 3 de junho de 2015
Amanhecer
Estava difícil dormir, meu corpo já pedia uma trégua e meu
subconsciente gritava para que não viesse outra noite em claro. Havia um tempo,
que eu não conseguia dormir. Um hábito que já era tão comum, que novidade seria se
eu conseguisse. Depois de rolar, para todos os lados possíveis, sentei na cama
e contemplei a noite. Que estava maravilhosa. O céu coberto de estrelas, a lua
enorme, escondendo-se um pouco atrás de uma casa, diante do meu campo de visão.
Aquela vista foi o ponto alto, para ajudar que minha insônia, não fosse embora. Ultimamente,
tudo o que eu fixava o olhar, trazia-me uma lembrança e hoje foi do dia em que nós, viramos a noite, conversando, rindo de piadas sem graça, deitados no
cobertor, esticado sobre a grama, com uma árvore ao lado, em um jardim qualquer. Permanecemos lá, ate o
dia amanhecer e nos banhar com a luz do sol, que reluzia em uma lagoa, próxima dali.
Uma lágrima ameaçou brotar em meus olhos e me trouxe de volta a realidade, o
dia já estava começando, eu passei a noite olhando a lua, como na lembrança,
que me deixou fixada, sem ouvir o que estava ao meu redor e sem enxergar a
paisagem, que realmente estava do outro lado da janela. Era um amanhecer
maravilhoso, como o do meu devaneio de segundos atrás, mas para mim era só mais
um dia, sem vida, como eu. Deite-me e consegui dormir. Agora era só esperar a
noite cair, para que eu voltasse a observá-la, na esperança que o próximo amanhecer desse uma nova luz para minha alma, que dormia quando o sol brilhava e acordava
quando ele adormecia.
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Floresta
Hoje o dia foi de recordações, eu tinha encontrado uma espécie
de diário, antigo, escondido no fundo de um baú, que ficava em meu quarto. Folheando-o,
encontrei um galho de uma árvore, de uma floresta, em que fiquei perdida uma
vez. Enquanto eu o lia, viajei no passado, lembrando, o que havia acontecido. Estava
iniciando o inverno e eu tinha saído, para colocar em ordem, coisas que minha
cabeça, não aceitava por si só, as árvores eram de troncos finos e compridos,
com um caminho estreito no meio. Não sei o real motivo, mas eu estava descalço,
com as roupas sujas e o cabelo desgrenhado, eu fugia de alguma coisa, ou alguém,
mas não sabia de quem ou do que. Eu fiz um mesmo trajeto, uma centena de vezes
e não consegui achar uma forma de sair, cansada de fugir do, até então oculto, encostei
em uma árvore mais próxima, me abracei, na tentativa falha, de me aquecer,
daquele vento frio e do toque, do restante das folhas geladas, que caiam e
queimavam minha pele. O vento ficava cada vez mais forte, eu tremia de frio e
comecei a gritar, pedindo que aquilo acabasse. Quando finalmente tive coragem de
abrir os olhos, eu notei que o vento tinha cessado e o dia estava mais claro,
encontrei meu caminho e iniciei minha jornada para casa, enquanto voltava,
descobri que eu fugia de mim mesmo, com medo de enfrentar meus próprios demônios,
que usavam de minha fragilidade, para me prender em um mundo, que me fizesse
fugir dos problemas, que muitas vezes a sanidade não me permitia encarar.
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