terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Submissão

A situação já estava totalmente fora de controle, já não era possível caminhar com as próprias pernas, falar com a própria boca e fazer as próprias regras. Toda e qualquer atitude que eu decidisse tomar estava sob o domínio e o poder de toda aquela subalternidade que eu mesmo permiti acontecer. Eu cedi quando eu não deveria, aceitei o que eu não queria, mas minha boca não me permitia emitir som para negar aquela subordinação. Decidi cair no buraco que eu mesmo cavei e deixei que aquela situação me enterrasse naquela escuridão, minha única opção, e a mais inteligente de fato, era obedecer, me sujeitar a toda aquela humilhação que eu mesmo escolhi viver. Eu sabia que seria difícil aceitar o fato de que eu gostava da dor que vinha dali, mas ao mesmo tempo eu não a queria. Não era só físico, era espiritual também e era muito degradante viver todo aquele vexame. Eu ainda não tinha certeza se as pessoas já foram espertas o bastante para notar que eu não caminhava sozinha, que minha boca não falava por si só e que minhas decisões não eram tomadas por mim mesmo. Para mim tudo parecia óbvio demais e eu tinha certeza que meu reflexo não mentia, pois todas as vezes que eu olhava no espelho, atrás de mim havia uma outra imagem, aquela que revelava toda a submissão que o meu passado não me permitia sair. Foi então que me dei conta que a minha prisão era individual, que ninguém via o mundo no qual eu vivia e que a única solução para todo aquele estado depressivo e carnal era me submeter a essa nova vida que tiraria de mim a única coisa que me provava que tudo que vivi foi real, a dor!

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Veneno

Sim, eu não podia negar que estava viciada, que havia me entregado de forma irrestrita e incondicional. Desde o começo eu sabia que seria algo venenoso, mas não era um veneno ruim, era algo que me dava poder e controle de manter minha sanidade saciada. Eu repetia aquele ciclo de duas a cinco vezes por dia, de forma jubilosa, mas mesmo que tudo estivesse do jeito que eu adorava, com todas as possibilidades e direitos que eu poderia ter, meu ego nunca estava totalmente satisfeito. Tentei fugir daquela sensação que me perseguia onde quer que eu fosse, visitei diferentes lugares, pessoas e descobri que a distração não resolvia o meu caso. Quando eu finalmente conseguia, mesmo que por pouco tempo, uma válvula de escape, aquele veneno, que era o meu vício diário, aparecia de diferentes maneiras para me provocar, tirar de mim a paz que eu buscava para não cair em tentação e quando eu percebia já era tarde demais. Eu sempre cedia no final, me entregava aquele mar de descobertas, que mesmo sendo praticadas todos os dias, me ensinava algo novo. Estava penoso correr da realidade que piscava em letras grandes em minha testa, eu já tinha viciado e tinha consciência de que o prazer gerado por aquele veneno era doce e irresistível e tentar esquivar daquele mundo que me pertencia nunca foi uma opção relevante.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Assassino

Os sintomas eram diferentes, as dores vinham em tempos curtos, mas o objetivo era o mesmo. Eu não tinha mais opções para escolher o lado positivo, todos os sintomas eram negativos e a única coisa positiva capaz de ser tirada do meio de tudo aquilo, era que toda aquela negatividade me fazia bem. Na verdade, não era coerente afirmar que aquilo fosse de fato algo que me favorecesse. Acho que isso era só uma forma de enganar meu consciente afetado, de alimentar aquele ego ferido, que não pensava na morte, mas a mantinha como opção, mas não era uma morte física, era espiritual. Aqueles sintomas constantes não me permitiam pensar com sanidade a maior parte do tempo, viver sob a sombra de um passado que não te trás lembranças boas é a pior parte de saber que o tempo todo, nada do que você imaginava tinha realmente acontecido. Aquela nuvem negra que pairava sob a minha cabeça vazia, só me mostrava o quão ruins as coisas haviam sido, todos os flashs que apareciam diante dos meus olhos, passavam um pequeno filme de terror do qual eu fui o personagem principal. O papel que desenvolvi, mesmo sem perceber, foi o pior, sofrendo calado, correndo para o perigo ao invés de correr dele, perdoando o predador, mesmo sabendo que o alvo era eu, e para completar o âmbito de caos total, vivendo com o próprio assassino. As pessoas gritavam diante das câmeras para que eu corresse para elas, mas eu escolhi correr para o meu assassino, eu sabia dos riscos que eu corria, mas a maldade dele era uma espécie de hipinose. Minha mente não conseguia pensar racionalmente diante dos seus olhos frios e aquele sorriso malicioso, que eu sabia que não era para mim e sim de mim. Mas eu o escolhi, corri para o seu lado, eu sabia das consequências, mas escolhi o perigo e foi então, ali na escuridão da noite, que eu descobri como o amor morria, nos braços de alguém que me abraçava, segurando uma faca na mão, escondida dos meus olhos, para arrancar de mim em pedaços a parte que eu lhe entreguei inteira, meu coração. 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Cores


Meus olhos enxergavam cinza, minha mente branco e minha alma o preto. Todos os tons da solidão e da tristeza refletidos em diferentes escalas e em diferentes partes. Eu já havia tentado de todas as formas possíveis, fazer com que aquelas cores, ganhassem vida. Na verdade, eu não sabia se podia classificá-las como cores, era tudo tão opaco, esmaecido, desvigoroso e inexpressivo, mas de uma forma enigmática aqueles tons insípidos me faziam querer buscar pela felicidade, ou pelo menos por parte dela. Eu tive que viver todos os tons de cinza e preto, porque o branco não tinha outro tom,  ele só era branco, se estivesse encardido já não seria mais branco. Aqueles mesmos tons me mostraram que mesmo não sendo capazes de trazer alegria, a primeira vista, era a única saída do mundo sombrio que aquelas cores passavam só pelo fato de serem tristes, mas se elas não existissem a alma jamais aprenderia a ser feliz. Aquelas cores que borravam o meu mundo foram o motivo de eu querer continuar a buscar por outros tons, tons que criassem um outro mundo onde as cores da solidão fizessem parte dele.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

E se ?

E se, as escolhas que traçamos ao longo da vida fossem possíveis de serem mudadas? E se, as pessoas sentissem o amor ao invés de aprendê-lo? E se, o amor fosse só sentimento ao invés de interesse? E se, a paixão fosse infinita como a imensidão azul que fica acima de nossas cabeças? E se, o perdão fosse algo concebido sem insistência e sem desistência? E se, as pessoas pensassem em transformar suas ações em mudanças que são desejadas todos os dias para o mundo? E se, fosse possível deixar que as perguntas movessem a Terra, sem o uso  de respostas para contestar a mente? Eu só consigo pensar em como as coisas poderiam ser diferentes se usássemos as perguntas para responder os nossos debates espirituais, se as perguntas fossem  causas de sorrisos constantes e sem motivos, se as perguntas abrissem portas que ninguém fosse capaz de fechar, se as perguntas trouxessem paz para o coração e calma para alma e que no fim tudo terminasse em um paraíso do qual ninguém quisesse sair. E se, tentássemos não limitar os sentimentos? E se, eu te amo fosse dito com o coração e não com a boca? E se, agíssemos por vontade e não por obrigação? Será que o mundo ainda estaria de pé e o coração inteiro? E se?

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Único

É claro que eu sabia que todo mundo era único, que cada um tinha uma forma de pensar e que a personalidade, mesmo sendo algo de autoria própria, era algo que as pessoas poderiam mudar. Pensei muitas vezes em deixar as pessoas mudarem minha forma de pensar, talvez era só vontade de me encaixar em um grupo ao qual nunca pertenci, ou talvez ainda fosse só pelo clichê de experimentar alguma coisa nova. Acabei optando pelo não, resolvi fazer meu próprio caminho e decidi por mim mesmo, sem deixar que as pessoas influenciassem minhas ideias, ou dissessem coisas que poderiam me fazer desistir. Talvez eu tivesse alguns tropeços, talvez desse tudo errado ou talvez desse tudo certo, afinal não é possível descobrir algo se não tentar. Para mim não importava o resultado e sim minha vontade, caso no fim não desse certo, eu não teria ninguém dizendo aquela frase feita ''eu te avisei'', seria tudo por minhas próprias escolhas e mesmo que não fossem as certas a culpa seria minha, ninguém teria um dedo no meio das minhas coisas, nem uma linha nas páginas do meu livro. No final de tudo, quem faz a história somos nós e temos um livro infinito, divido em trezentos e sessenta e cinco páginas por ano, que sequencialmente nos dá a oportunidade de escrever um novo capitulo. Assim tudo que acontecer será de escolha própria e ninguém além de nós mesmos, será responsável pelo destino que traçarmos ao longo da vida. Ser único não é ser egoísta, é pensar, agir e ser diferente.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Silêncio

Até o momento o silêncio foi a melhor opção para minha alma manter-se em um lugar paralelo a felicidade. Um lugar que deixasse transparente um sorriso que não era real, uma verdade que era mentira, uma palavra que não queria ser dita e um rosto apático coberto por uma máscara que mostrasse o contrario do que eu realmente sentia. Eu sabia que uma hora toda essa farsa se transformaria em um pesadelo maior do que o que eu já vivia, eu poderia esconder das pessoas tudo o que eu sabia, sentia e gostaria de falar, mas da minha consciência era impossível correr. Estava ficando cada vez mais complicado viver uma vida que não era minha, mas o silêncio continuava sendo a melhor opção. Compartilhar nunca foi o meu ponto forte, sofrer para o mundo ver nunca foi meu ponto fraco, então a melhor opção para minha dor era o silêncio.
O silêncio que falava por mim, as vezes era difícil esconder que algo estava errado, mas o meu silêncio respondia as perguntas que as pessoas me faziam constantemente. Eu estava ciente de que elas voltariam a me perguntar sobre meus maus momentos, mas eu já estaria pronta para responder que já estava tudo bem e que foi só um dia ruim, como na vida de qualquer ser humano normal. Como sempre o silêncio permaneceu sendo minha melhor opção. No final de tudo, eu sabia que eu sempre optaria pelo silêncio, que passou a ser minha melhor companhia, ali eu era capaz de ouvir meus próprios pensamentos e dizer para mim mesmo que era melhor calar do que dizer algo sem a intenção de fazê-lo. E mais uma vez o silêncio foi a calmaria para a tempestade que caia dentro do meu peito, mesmo diante de todo aquele tormento o vazio era a única forma de fazer o silêncio permanecer em mim.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Dúvida

Eu não queria duvidar que o amor era algo que todo mundo sentia e nem que era algo compartilhado. Mas eu só conseguia acreditar e enxergar que ele deixava um espaço vazio e de difícil acesso.
 A dúvida me consumia todos os dias e me perseguia como uma sombra, eu já não sabia mais se eu duvidava do sentimento ou se eu duvidava que pudesse senti-lo. 
Em um papel perto de minha cama, comecei a marcar com pontos azuis os dias que eu acreditava ser capaz de amar e com pontos vermelhos os dias que eu duvidava que o amor era real, que eu seria capaz de expressar e sentir.
No fim foram vinte pontinhos azuis e vinte um vermelhos, nessa briga entre o coração e a razão.
Em consequência desse um ponto duvidoso a mais, a única certeza que eu tinha era que a dúvida era o único caminho para descobrir o que eu seria capaz de sentir.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Promessas

Prometi que nunca mais ia chorar, que não voltaria atrás e nem deixaria que as lembranças virassem uma espécie de tormento em minha cabeça. Prometi que não me importaria com o que as pessoas dissessem sobre mim, que a opinião alheia não seria suficiente para me colocar para baixo. Prometi que tudo seria diferente e que eu aprenderia a olhar sempre adiante sem me lembrar que atrás de mim teve alguma coisa. Prometi que aceitaria o calor do sol e a brisa do vento me banhando mesmo que não fossem desejados. Prometi que me livraria das coisas que me faziam lembrar do que eu não deveria e queimaria as evidências em uma fogueira no meio da noite para que a luz do fogo fosse a única coisa capaz de achar minha sombra. Prometi que não me importaria se um mais um são dois ou se as ondas são do mar. Foram tantas as promessas com um mesmo objetivo de cumprir uma única que seria responsável pelo resto. A promessa de nunca esperar que nada fosse o motivo do meu coração bater mais forte, minha respiração soar mais lenta e minha alma mais transparente.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Liberdade

Era a primeira vez em anos que eu me sentia livre. A sensação era tão boa que tudo em minha volta virou um grande tanto faz. Eu não me importava se o céu era realmente azul durante a noite, se o fim era o inicio de um novo começo, ou se a vida era um ciclo que terminava na morte.
O que era realmente importante era a essência daquele momento, as coisas que me faziam sorrir feito boba, a brisa beijando meu rosto e o vento deixando meu cabelo desgrenhado sob meu rosto corado.
Tudo que antes não fazia sentido para mim passou a ter quando aprendi a gozar das coisas boas da vida, quando deixei de sobreviver e aprendi a viver, quando deixei a vida me ensinar que o tempo é o melhor remédio para encontrar seu próprio caminho e fazer dele a liberdade que o mundo não nos permite ter.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Condenação

Talvez não houvesse mais uma solução para mim, a minha alma  estava real e definitivamente condenada. 
Não era escolha, era só consequência do ontem. Não sei ao certo, se é tão ruim a zona em que minha alma chegou. 
Antes de ser condenada para sempre a prisão solitária do hoje, ela foi condenada a outra muito pior no passado. 
Ficou presa na enganação e ilusão de um amor que não valia a pena e que ao final esvaiu-se com o choque da realidade e virou poeira, junto com as lembranças guardadas no canto daquela prateleira velha, com as fotos de quando minha alma ainda sabia e praticava a arte de sorrir. Mas de uma forma estranhamente positiva, a condenação era uma válvula de escape para a liberdade que meu coração precisava para bater apenas para me manter viva.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Anônimo

Todos os dias pela manhã, eu não sabia exatamente o horário, eu encontrava uma carta em meu jardim. Elas nunca eram colocadas na caixinha de pedra branca, feita especialmente para elas, ao lado do portão e eu não compreendia o motivo daquilo. Já fazia mais de um mês que eu havia começado a recebê-las. Eram cartas anônimas, escritas no computador e impressas em um papel pardo. Cada carta falava de uma forma de amor, mas uma vez por semana a tradição era quebrada e uma delas falava de coisas que vinham antes ou iam além de tal. Haviam cinco cartas que não abordavam o contexto clichê do amor, uma falava da solidão e dizia que a existência da mesma era consequência do amor mal expressado. A outra falava do sofrimento e dizia que era impossível amar sem sofrer o mínimo que fosse. A terceira falava da paixão, que era uma zona onde as pessoas se confundem e que antes de começar a amar já caem na solidão e no sofrimento ao mesmo tempo. A quarta falava da enganação, que no caso era a junção das três primeiras. Já a última, chamou muito a minha atenção, pois falava do contentamento e do amor não correspondido e é claro que todas as quatro primeiras definições estavam inclusas nessa zona, lá dizia que era inútil lutar por amor quando se estava nesse estágio. Bem no finalzinho da carta, em letras minúsculas, me fez compreender o motivo de tudo aquilo, dizia que quem as escrevera era um alguém que havia passado por todas as zonas e agora estava preso na última delas, pois nunca havia de mim recebido uma só resposta. Antes que eu pudesse me perguntar como um anônimo queria que eu o amasse, havia outro lembrete que dizia que ele nunca se manifestara porque sempre encontrava as cartas no lixo jogadas, preenchendo-o com o amor que ele me enviava.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Escuridão

Já era manhã quando o sono resolveu chegar, eu não tinha conseguido pregar os olhos a noite inteira, imersa em pensamentos e lembranças que atordoavam minha mente. Coloquei o travesseiro sobre minha cabeça e permaneci assim por um tempo, tentando sufocar meus pensamentos na escuridão macia daquele objeto. Eu me sentia assim fazia um bom tempo, em uma escuridão, que de alguma maneira me fazia querer permanecer nela para sempre. O destino era algo tão cruel, que mesmo mediante as escolhas certas, eu não havia alcançado meus objetivos. Eu estava cansada de fracassar, de agir como se estivesse completa e imensamente feliz. Meu sorriso era uma farsa e um impulso para me fazer lutar contra a sombra daquela escuridão vazia, agindo também como uma forma de descobrir como sair e o motivo que, mesmo estando sem luz e vida, me fazia querer ficar. Quando retirei o travesseiro de minha cabeça, fiquei observando o teto impassível e percebi que o que me segurava lá, era a falta de sanidade, para enxergar a realidade que eu deveria enfrentar. De certa forma isso confortava meu coração, fazendo com que ele optasse pela escuridão que o cegava, enganava e o deixava desligado dos problemas lá fora, porém a única coisa que podia me fazer sair, era o mesmo motivo que havia me feito entrar.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Dor

O sofrimento é necessário em alguns momentos da vida, agindo como lição e as vezes como uma válvula de escape. A dor ensina a ser forte, independente e mais experiente, no ponto em que começa a ser uma grande ferida, chorar não é vergonha, perder não é ser fraco, desabafar não é ser ingrato e sorrir não significa que se está feliz. A vida tem vários ciclos, nascer e morrer, plantar e colher, causa e consequência, são tantos que fica difícil escolher qual completar primeiro. O destino é consequência das escolhas que fazemos e do caminho que traçamos. O sofrimento é também, uma maneira de desligar-se do mundo e encontrar um ponto de paz na dor, no escuro dos olhos fechados, no coração partido, nas lembranças que atormentam e nas cicatrizes das feridas deixadas. A alma com a aura escura, quase se apagando, descobre uma forma de voltar a viver a realidade de um mundo cruel e cheio de gente vazia,  para recomeçar o que ficou incompleto.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Infância

O dia estava bom, comparado aos anteriores que só chovia e fazia frio, a luz daquele sol tocava minha pele e a sensação era muito boa. Mas eu não havia saído de casa apenas pelo sol, eu queria visitar um lugar antigo que eu gostava de ir quando criança para brincar e ler. O lugar tinha uma árvore enorme, que fazia uma sombra maior ainda que sempre nos acolhia. Estava eu ali, diante do meu passado, tentando não pensar no futuro, caminhei até lá e encontrei no tronco da árvore, a marca que eu e uma amiga fizemos na infância. Sentei e fiquei observando aquele lugar, lembrando de como era gostoso não saber o significado de problemas. Quando caia, levantava limpava a sujeira da roupa e voltava a brincar, se machucasse mamãe dava o beijo que ''cura'' e dizia que tudo ia ficar bem. Mas sempre vinha aquele assunto de querer ser adulta, querer crescer e ser alguém, um desejo que toda criança almeja, sem saber que nada é como imaginamos ser. Queremos liberdade e ganhamos a prisão, queremos amor e recebemos ilusão, desejamos o bem e nos desejam o mal, entre muitas outras coisas que sonhamos e que não é fácil de conseguir. Descobrimos tarde demais, que o mundo não é uma máquina de realização de desejos e que as pessoas nem sempre são quem aparentam ser. Fiquei ali desejando voltar a minha infância, onde minha preocupação era se no dia seguinte eu poderia continuar a brincar. Agora o que me resta é apenas a vontade que não consola e uma realidade que esconde o passado e nos da como foco principal a ilusão de um clichê que tudo um dia vai mudar.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Mundos

Cansaço já não era a palavra certa para descrever meu estado de espírito. Todos os dias eu deixava o café esfriar, a fumaça dissipava em meu rosto e o aquecia com o vapor. Fazia um certo tempo, não sei ao certo o quanto, que o café não me servia mais como bebida, mas sim como um enfeite  em minhas mãos ou em minha mesa. Eu já não sabia o que fazer, leituras, filmes e textos de minha autoria, já faziam parte de um lado oculto em meus dois mundos, real e imaginário. Comecei a sentir-me no meio de meus dois universos, em uma linha que ninguém pisou antes, a ponto de me sentir tão pesada que nem a falta de gravidade me fazia flutuar. Acordei dessa transição, indecisa de meus atos futuros e sem  muita recordação dos meus atos passados, que provavelmente, eram a causa de meus devaneios. E ainda mais intrigante, era eu não entender, desde quando me tornei esse tipo de pessoa, que não sabe o mundo que pertence. A minha única certeza, era que eu pertencia a um mundo que eu não podia viver, como o que visitei em meu momento de transição. Lá ele fazia de mim um ser totalmente sem capacidade de definir as coisas da forma que elas realmente são e isso me deixava viver, sem ter que conviver, com a dor que o mundo real passa, através de descobertas que as ações do cotidiano provocam em nossa alma, dando a ela um cansaço sem data para ter um final.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Infinito

Eu já tinha lido, visto e ouvido, muitas coisas que tentavam descrever o infinito. Certas definições eram aceitáveis, mesmo que clichês, outras eram sem sentido e algumas raramente, na teoria, eram totalmente corretas. Mas eu queria mais, minha curiosidade ia muito além de livros e frases feitas. O infinito era de fato, algo inesgotável, em algumas hipóteses. O amor, geralmente, se encaixa neste contexto, mas em alguns casos, é pura utopia, cria e fantasia-se lugares, que as mãos não podem alcançar. Mas nas aventuras, amizades e descobertas, só tem fim se a gente quiser. Existem tantas comparações, que passei uma tarde, definindo em escalas o conceito de infinito, em minha cabeça. A noite chegou e eu só notei, porque abri as venezianas, a lua estava enorme, iluminando a colina, que me saudava com uma bela vista, todos os dias. Decidi ir até lá, sentei no topo e fiquei observando a lua, depois andei mais para baixo e entrei em um caminho todo florido, fascinada com a cor que as flores ganhavam, com a luz do luar. Fixei meu olhar no final do caminho, até minha mente definir por si só, a própria definição de infinito. Ao fim de minha transição, entre o real e imaginário, descobri que o infinito era só uma palavra criada para a extensão de ações e mundos que não se pode tocar e cruzar.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Sombra

Sob a luz da lua, eu observava minha sombra, que não se movia junto comigo, em nenhum movimento que eu fazia. Permanecia intacta, sob qualquer circunstância. Achei estranho, mas mesmo assim continuei meu caminho de volta para a casa. Minha sombra, permaneceu ali, no lugar do qual havia acabado de sair, não hesitei, só continuei meu trajeto até parar em meu quarto. Sentada, perto de minha janela, fiquei observando a lua, tentando entender, porque minha sombra havia sido roubada de mim. Deitei e pensei por um breve momento e lembrei-me de uma  frase que tinha lido em um livro antigo, que meu pai havia me dado, ''A sombra só servirá de companhia, até que sua alma descubra um meio de encontrar seu próprio reflexo''. E foi a partir daquela recordação, que eu percebi que minha alma tinha encontrado seu reflexo, que a sombra só seria uma mancha em minha memória, que em momentos desapareceria no escuro, como lembranças ruins ficam no passado. De certa forma, minha sombra não tinha sido roubada e sim ficado no escuro, até que minha alma precisasse dela, para novamente sustentar o reflexo perdido por falta luz interior.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Amanhecer

Estava difícil dormir, meu corpo já pedia uma trégua e meu subconsciente gritava para que não viesse outra noite em claro. Havia um tempo, que eu não conseguia dormir. Um hábito que já era tão comum, que novidade seria se eu conseguisse. Depois de rolar, para todos os lados possíveis, sentei na cama e contemplei a noite. Que estava maravilhosa. O céu coberto de estrelas, a lua enorme, escondendo-se um pouco atrás de uma casa, diante do meu campo de visão. Aquela vista foi o ponto alto, para ajudar que minha insônia, não fosse embora. Ultimamente, tudo o que eu fixava o olhar, trazia-me uma lembrança e hoje foi do dia em que nós, viramos a noite, conversando, rindo de piadas sem graça, deitados no cobertor, esticado sobre a grama, com uma árvore ao lado, em um jardim qualquer. Permanecemos lá, ate o dia amanhecer e nos banhar com a luz do sol, que reluzia em uma lagoa, próxima dali. Uma lágrima ameaçou brotar em meus olhos e me trouxe de volta a realidade, o dia já estava começando, eu passei a noite olhando a lua, como na lembrança, que me deixou fixada, sem ouvir o que estava ao meu redor e sem enxergar a paisagem, que realmente estava do outro lado da janela. Era um amanhecer maravilhoso, como o do meu devaneio de segundos atrás, mas para mim era só mais um dia, sem vida, como eu. Deite-me e consegui dormir. Agora era só esperar a noite cair, para que eu voltasse a observá-la, na esperança que o próximo amanhecer desse uma nova luz para minha alma, que dormia quando o sol brilhava e acordava quando ele adormecia.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Floresta

Hoje o dia foi de recordações, eu tinha encontrado uma espécie de diário, antigo, escondido no fundo de um baú, que ficava em meu quarto. Folheando-o, encontrei um galho de uma árvore, de uma floresta, em que fiquei perdida uma vez. Enquanto eu o lia, viajei no passado, lembrando, o que havia acontecido. Estava iniciando o inverno e eu tinha saído, para colocar em ordem, coisas que minha cabeça, não aceitava por si só, as árvores eram de troncos finos e compridos, com um caminho estreito no meio. Não sei o real motivo, mas eu estava descalço, com as roupas sujas e o cabelo desgrenhado, eu fugia de alguma coisa, ou alguém, mas não sabia de quem ou do que. Eu fiz um mesmo trajeto, uma centena de vezes e não consegui achar uma forma de sair, cansada de fugir do, até então oculto, encostei em uma árvore mais próxima, me abracei, na tentativa falha, de me aquecer, daquele vento frio e do toque, do restante das folhas geladas, que caiam e queimavam minha pele. O vento ficava cada vez mais forte, eu tremia de frio e comecei a gritar, pedindo que aquilo acabasse. Quando finalmente tive coragem de abrir os olhos, eu notei que o vento tinha cessado e o dia estava mais claro, encontrei meu caminho e iniciei minha jornada para casa, enquanto voltava, descobri que eu fugia de mim mesmo, com medo de enfrentar meus próprios demônios, que usavam de minha fragilidade, para me prender em um mundo, que me fizesse fugir dos problemas, que muitas vezes a sanidade não me permitia encarar.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Outono

No meio da leitura de um livro, antes esquecido, na estante do meu quarto, encontrei uma foto do outono passado. Fixei meu olhar naquela imagem, da rua coberta por folhas, que as árvores derrubavam como gotas de uma tempestade, em escalas do amarelo ao marrom e deixei minha mente viajar no tempo. Ali, dentro daquela lembrança, eu ainda tinha a quem amar, o que fazer e aonde ir. Casualmente frequentávamos um parque, que apesar de abandonado, nos saudava com um por do sol, jamais visto em filmes, ou em qualquer outro lugar que eu já tivesse visitado. Todos os dias íamos lá, mas no outono, era mais especial, recebíamos a brisa no rosto, cabelos esvoaçantes, que vinham como uma espécie de bônus, que arrancavam sorrisos da cena, mesmo que comum, o tempo todo. Mas agora, tudo o que me restava, era uma rua limpa, um banco vazio, ventos sem graça e uma alma envergonhada, pois aquele glorioso outono passado, não havia levado só as folhas espalhadas pelo chão, também levou meu coração, que agora chorava por saber que seu outono, nunca mais chegaria com a mesma beleza.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Portal

A fumaça do chocolate quente se dissipava sobre minha cabeça, imersa em pensamentos, distante da realidade que me rodeia. Meu olhar estava longe, além da xícara em minhas mãos, além da janela e além da paisagem que me presenteava lá fora. Eu me sentia vazia, de uma forma positiva, eu acho. Borboletas, pássaros e outros animais, dançavam para lá e para cá, diante dos meus olhos, que mesmo fixos em um ponto não identificado, não deixava de notar as belezas à sua volta. Mas eu não me recordava, que coisas desse tipo, eram comuns ali, o clima era geralmente muito frio e a presença de criaturas assim, era quase zero. Parecia um outro lugar, em meu momento fixação, pisquei uma vez, sumiram as borboletas, duas vezes sumiram os pássaros e em consequência de cada piscada, era algo que desaparecia como fumaça. No final, me dei conta de que o vazio que eu sentia, era minha imaginação, que estava cansada de criar, paraísos sem um portal para entrar.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Desconhecido

O dia estava escuro, o sol decidiu não nascer, o frio nos saudava com arrepios pelo corpo e as árvores com ventos gelados, que sopravam um som ao redor do ouvido, mas surpreendentemente não chovia. Decidi sair, não aguentava mais olhar as paredes e minhas fotos da infância, adolescência e as atuais, espalhadas pelo meu quarto. Eu ainda estava de pijamas e não quis me trocar, coloquei meu casaco por cima, luvas, meias e minha galocha vermelha. Caminhei para uma rua, da qual eu não me lembrava que existia ali e ao final dela havia um túnel. No decorrer do caminho, percebi que as árvores tinham poucas folhas e galhos finos e salientes, era assustador, mas minha curiosidade foi maior que o medo, então decidi continuar. Quando parei na porta do túnel, notei que ele não era tão escuro, não como eu imaginava que seria e dei o primeiro passo adiante, segui apoiando na parede lateral esquerda e fui andando devagar, era meio úmido e áspero, meus dedos estavam dormentes pelo frio e doíam um pouco, mas eu não parei. Como nos clichês, havia uma luz no fim do túnel, a porta era bem iluminada, que atrapalhava minha visão, entrei ali e quando abri os olhos havia um enorme deck flutuando em uma lagoa, com água cristalina, que mais parecia uma piscina sem fim, um pequeno barco e um senhor parado junto a ele. Cheguei até lá e ele me entregou um cartão, parecido com um ticket, e me deu a mão para entrar, segurei firme, entrei, sentei no lugar indicado por ele e partimos. Fiquei fascinada com tudo que vi, que nem consegui dizer nada e quando finalmente abri a boca, o senhor levantou a mão indicando silêncio e disse ‘o desconhecido é o principio do destino’. Virei-me para olhar onde estávamos e me assustei ao perceber que estava em meu quarto, eu tinha certeza de que não havia sido um sonho, pois quando abri a mão o cartãozinho estava lá, olhei com atenção e achei o sentido do que havia acontecido, na palavra destacada no verso do cartão, ''escolha''.  Eu havia optado pelo desconhecido e deixado o medo para trás, minha decisão foi o principio do meu destino, que havia começado após a travessia por aquela porta.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Lamparina

As árvores eram enormes e as copas cortadas em um formato redondo, as sombras cobriam metade do caminho, mas as árvores ficavam de ambos os lados e a estrada  ficava totalmente escura. Eu tinha medo de sair dali e ao mesmo tempo tinha medo de ficar, porém o meu medo atingia um ponto ainda mais curioso, que era saber, como e quem havia me deixado ali. A ultima recordação que vinha em minha mente, antes de ser deixada ali, era de uma pessoa dizendo bem pertinho do meu ouvido, que tudo ficaria bem e depois acordei, nessa estrada escura e vazia, sozinha, com meus pensamentos perdidos e com apenas uma lamparina, muito antiga, nas mãos. Sentei no meio da rua, de terra vermelha, na posição de lótus e coloquei a lamparina entre as pernas, senti uma sensação estranha de estar no meio do nada, com apenas um ponto de luz de companhia, fechei os olhos e comecei a gritar que aquilo não era real, mas só eu podia escutar, pois o grito só ecoava em minha cabeça. Não sei quanto tempo fiquei de olhos fechados, porque quando os abri novamente, já estava claro e o sol começava a me saudar, por razões obvias, eu tinha caído no sono, pois não havia explicação mais lógica, do que essa, para a minha situação. Quando finalmente reuni forças para levantar e fazer meu caminho, na verdade pensar por onde começar a seguir, eu escutei um barulho e vinha de uma árvore bem próxima de mim. Fui até lá e encontrei um papel fixado nela, que dizia ''Foi ideia minha deixar você aqui, nesse mundo escuro, vazio e sem graça, pois é exatamente assim que me sinto, quando você vai embora''. Descobri quem era o autor e quando abri a boca para chamar seu nome, o avistei do outro lado, com as mãos estendidas para mim, caminhei até lá e me atirei em seus braços, contemplando aquela visão, agora perceptível, rogando as céus que aquele momento nunca tivesse fim. Esperamos a noite cair novamente e pegamos a lamparina, deixando aquela pequena luz, ser o inicio da nossa caminhada para o futuro que o vazio criou.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Pesadelo

Porque seria diferente dessa vez, eu sabia que diria a verdade na sua cara, pois na noite passada, eu ouvi você sussurrando coisas para as paredes, te ouvir dizer que estava na hora de encarar a realidade e eu tinha certeza que essa realidade era eu. Fui até o meu quarto e fiquei sentada ouvindo meus próprios pensamentos, confesso que tive medo do que me diria quando passasse por aquela porta, mas ao mesmo tempo, eu não aguentava mais de ansiedade para saber do que se tratava. Era duas horas da tarde, o dia estava extremamente frio e triste, o ponteiro do relógio permanecia no mesmo lugar, as horas não passavam. Levantei e fiquei observando a janela, a chuva que caia lá fora estava bem fininha, quase não dava para ver. Não sei quanto tempo fiquei paralisada com tal cena, pois quando percebi, você já estava dentro do quarto, olhei o relógio e marcava cinco horas. Seu único gesto, foi indicar a cama para que eu me sentasse, obedeci e fiquei te observando, seu rosto estava impassível, não indicava absolutamente nada, além de uma figura dura e fria. Quando me levantei, você balançou a cabeça negativamente e eu me sentei novamente, fui ficando cada vez mais nervosa com sua aproximação e a única coisa que fez, foi deixar um beijo frio em minha testa e um papel pardo em minhas mãos. Eu já sabia o que era, ou pelo menos achava que sabia. Você se foi e eu não fiz nada para impedir, abri o papel e lá dentro havia uma folha, com um parágrafo pequeno, dizendo que você ia embora porque tinha encontrado uma cura para minhas dúvidas, fiquei sem entender e fui até a janela chamar pelo seu nome. Era tarde demais, seu carro já estava longe e eu com o coração destruído, fui até a sala e antes de me jogar no sofá, encontrei um outro  bilhete dizendo que mais tarde chegaria um presente para mim, curiosa, fiquei ali esperando. As nove horas da noite, ouço um toc toc na porta e quando abro encontro uma caixa, peguei-a rapidamente e voltei para meu lugar. Quando a abri, havia um coração lá dentro, peguei-o e vi um papel no fundo que dizia ''mesmo após a morte quero deixar claro pra você, que meu coração será sempre seu''. Abracei aquele pequeno presente e deixei as lágrimas falarem por mim, desejando que aquilo passasse, adormeci na esperança estupida de acordar e encontrar você para me dizer que foi tudo um pesadelo.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Lembranças

Era uma tarde comum, de quarta -feira, presenteada com um por do sol, rajado em  laranjado vibrante. Sentei na sacada e observei-o por um tempo, minutos depois tive um vislumbre, que me lembrou você. De uma forma pouco comum, quando ergui meus olhos na direção do céu, aquela luz me lembrou o brilho dos seus olhos, a maneira como as nuvens se encaixavam, lembrou-me seus delicados movimentos, como quando você tira o cabelo que pende sob seu rosto e abre aquele sorriso até os olhos, que faz minha respiração dissipar-se no ar, como uma partícula de poeira, que voa sem rumo até pousar e descansar. Comecei a reviver momentos, relembrando gargalhadas em meio a conversas sem fim, cada beijo roubado e cada abraço dado em um dia frio. Repentinamente começou a chover, meu rosto foi coberto por pequenas gotinhas geladas, queimando contra a minha pele quente e foram escorrendo em meios a lágrimas, que insistiram em cair, fazendo-me despertar, de um sonho com os olhos abertos e perceber que mesmo em meio a tantas lembranças, a única coisa que meu coração insiste em querer, é você. Mesmo que o preço a pagar, fosse sacrificar as memórias que vivi antes de te encontrar.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Reflexo

Passaram-se horas e eu continuava a observar o teto, impassível e ansiosa, sem saber onde minha mente chegaria. Liguei o som com músicas lentas, um fundo para aquela nostalgia rara e comecei a ler um livro empoeirado, que estava escondido atrás de um enfeite velho, na minha prateleira. Algum tempo depois, minha mente permanecia vazia, eu não conseguia concentrar em nada por muito tempo, optei por um filme, um romance dos anos 80/90 e de uma forma muito rápida e pouco comum, meus olhos pesados, fizeram a sala diminuir e escurecer, cai no sono. Acordei assustada, com um barulho vindo da porta, sonolenta caminhei até lá e encontrei uma caixa branca, com uma fita vermelha ao redor, formando um enorme laço e ao lado, havia um cartão pardo com meu nome. Não avistei ninguém, peguei a caixa, meio confusa, entrei e sentei-me no sofá, abri o cartão e lá dizia 'Não se esqueça de lembrar'. Incrédula  e sonolenta, pisquei repetidas vezes, afim de desembaçar minha visão. Achei tudo muito estranho, não havia assinatura do autor, resolvi continuar o que fazia, deixando de lado, a curiosidade em descobrir o sentindo daquela ação, resolvi abri a caixa "misteriosa", e para minha surpresa, não havia nada de especial ali, além de um espelho velho, emoldurado com flores, que já estavam enferrujando. Me senti deslocada, por não conseguir compreender o que estava acontecendo, esfreguei os olhos, belisquei meu braço, achando que tudo não passava de um sonho, foi tudo em vão, não era um sonho, me senti mais idiota que nunca, agora além da curiosidade, meu braço ardia. Peguei o espelho e lá estava, meu rosto, pálido, frio, confuso e triste, refletindo através de meus olhos, fundos e escuros, uma alma sem vida. Encarei-me por um breve momento, e pensei por um instante, que eu sabia o significado daquilo tudo. Eu precisava, não me esquecer, de lembrar de mim mesmo, encarar o presente e começar tudo outra vez, de uma forma diferente e que de tal maneira, me fizesse, refazer a cena de segundos atrás e encontrar um reflexo diferente, iluminado, direcionado e que refletisse, a cor de uma alma com vida. Sem pensar em nada, virei o espelho e atrás havia uma mensagem 'O amor é memorável, as lembranças inesquecíveis, o futuro invisível e você inigualável. Abracei o espelho, comecei a sorrir e descobri quem era o bem feitor, guardei-o de volta na caixa e lembrei-me da última coisa, que ele havia me dito, antes de eu ir embora 'Na vida tudo tem um fim, mas para cada fim há um novo começo'.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Solidão

Não tão no alto de uma colina, cercada por uma grama extremamente verde e um riacho de água cristalina, dividindo um campo de flores coloridas, havia uma pequena casa, com uma vidraça na frente. Todos os dias, quando eu passava por ali, via um rosto na janela me observando, mas nunca sorria ou acenava de volta para mim. Na manhã seguinte, parei ao lado oposto a casa e comecei a jogar pétalas de diversas cores, na água. De repente a porta se abriu e de lá, saiu uma criança, era a menina mais linda que eu já tinha visto em minha vida, cabelos dourados cobriam-lhe os ombros, olhos azuis como o céu e a boca era delicadamente, um fio delineado e vermelho como o sangue. Ela me observou da escada e eu chamei-a. A medida que ela se aproximava eu notava que ela não sorria, mas em sua mão carregava um coração partido e  quando finalmente chegou perto de mim, segurou minhas mãos e entregou-me o coração, o juntou na palma de minhas mãos úmidas, e virou e refez o trecho de volta para a casa. Comecei a segui-la e segurei seu frágil braço e a encarei em busca de respostas, apenas movimentando os lábios disse 'O amor regenera a alma', finalmente soltei seu braço e ela sumiu como um clarão diante dos meus olhos. Sentei ali, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Após revirar a minha mente do avesso, lembrei o quanto em pedaços eu me sentia, por não saber amar, pois se eu soubesse, me regeneraria como aquele coração, que agora eu carregava nas mãos, recebido daquele que menos entende o motivo de tanta tristeza, que divide, não só o coração, mas também a alma, que padece por trás da vergonha de viver na solidão.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Feixe de Luz

Acordei em uma tarde nublada de outono, havia um pequeno feixe de luz dançando em meu peito nu. Sentei e o observei caminhar pelo meu corpo despido, até parar em minha mão, tentei pegá-lo, mas foi em vão. Levantei-me, vesti meu roupão e fui até o jardim, que estava coberto de folhas amareladas e secas, ventava forte, as folhas começaram uma dança no ar, e eu me juntei a elas. Fechei os olhos e me entreguei aquela ação, sem sentido talvez, mas um pouco restauradora. Abri os olhos novamente e estava em uma estrada coberta por árvores floridas, em um vermelho vivo. A rua não tinha fim e nem começo, era uma reta tão grande, que me tornei incapaz de decidir para qual lado andar. Gritei ao som da liberdade e minha voz ecoou no meio das árvores, inesperadamente veio um som em resposta, de trás de uma delas. Fui em busca do autor, procurei uma, duas, cinco, quinze, trinta árvores e nada. Sentei no meio da estrada, abracei os joelhos e sussurrei que aquilo não era real, de repente um outro feixe de luz, iluminou meu pé e para minha surpresa, sempre que eu procurava de onde vinha, ele sumia. Levantei-me e fui até uma árvore de tronco largo, que estava a minha esquerda, caminhei sem fazer ruído e a encontrei, com um espelho na mão tentando me atrair para junto de si. Ela sorriu, me deu um beijo na testa e pegou-me pelas mãos, me levou até um pequeno barco, em uma lagoa de água absurdamente clara. Subimos juntas, nos sentamos e ela me abraçou, dizendo que aquele lugar chamava imaginação, me pediu para fechar os olhos e disse que sempre ia me visitar, quando eu deixasse minha mente passear e se afogar em sonhos. Acordei com frio, estava no meu jardim, deitada sobre a grama e coberta de folhas, que começavam a grudar em minha pele, pois a chuva começava a cair. Levantei e caminhei para dentro de casa, fui até o meu quarto e segui para o banheiro, após o banho revigorante, deitei em minha cama e achei um pequeno espelho no parapeito da minha janela. Peguei-o e o coloquei ao meu lado, fechei os olhos e me entreguei ao sono, para assim encontra-la novamente, no mundo que havia sido criado para nós.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Caixa


Aquele dia havia sido difícil, encontrei a nossa caixa de lembranças enterrada no jardim, ao fundo da minha casa. Quando a abri, achei a primeira foto que tiramos, o nosso anel de plástico, desses encontrados em chicletes premiados, testes de revistas, fotos de lugares que desejávamos ir e bem no fundo, tinha a primeira carta que recebi.  Fiquei olhando tudo aquilo, repassando todos os momentos em minha cabeça,  me sentindo fútil e medíocre ao mesmo tempo. Comecei a chorar com os braços em volta das pernas e o rosto escondido no meio das mesmas. Ergui minha cabeça depois de um tempo, sentindo o sol queimar a minha pele, molhada pelas lágrimas. Algo repentino me veio a mente, juntei tudo em seu devido lugar e joguei ao fogo, deixando queimar as lembranças de um passado que um dia me fez sorrir de uma maneira fora do comum. Mas agora, era tudo tão vazio, que fazia minha alma esconder-se atrás de sua vergonha. Vergonha de chorar por tudo que a fez acreditar, antes de ser cobrido por uma camada de terra fria, e pedras,  que metaforicamente, eram duras e sem vida, como o meu coração era agora.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Presságio


Acordei com o coração acelerado, dançando uma melodia extremamente alta e sem ritmo. Me olhei no espelho,  percebi o quão pálida estava e a lágrima que brotava em meus olhos e ameaçava cair. Caminhei até o jardim e percebi que a recordação que vagava em minha mente não havia sido um sonho, o fato era real e doloroso, uma dor insuportável ao olhos e ao coração. Minhas fotos estavam espalhadas, meu urso rasgado ao meio e meus presentes queimados na fogueira próxima ao meu balanço de infância. Sentei na grama tentando absorver aquela cena, ao qual eu jamais me esqueceria. Eu odiava aquele cara, eu sabia que o mal feitor era ele e aquilo fazia de mim o ser humano mais fútil que existia naquele momento. Comecei a chorar, só percebi que a noite havia chegado pelo frio que cobria meu corpo, arrepiando cada centímetro após cada gota de chuva  que o banhava. Quando consegui levantar eu a vi, parada na minha frente, com as mãos estendidas, me convidando para entrar. Já no quarto ela me secou e me ajudou a colocar um roupão, soprou minhas mãos que tremiam e me pediu para fechar os olhos. Eu a obedeci, após alguns minutos ela sussurrou no meu ouvido 'pode abrir'. Comecei a olhar em volta e o quarto estava cheio de fotos nossas, na cama havia o urso e todos os outros presentes queimados mais cedo, exceto por um anel, com um bilhete dizendo ' Agora será eterno, te amo'. Comecei a chorar e ela me abraçou forte, nos despimos a luz da lua, que agora, era a única no quarto e deitamos. Entrelaçamos as mãos e eu observei a lareira impassiva, que a cada piscada, pesava meus olhos diminuindo o fogo. E de alguma forma as lembranças iam junto e aquele calor que eu sentia mesmo estando nua, aqueceu a minha alma e deu a ela o sentido que havia perdido até antes da chuva chegar.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sonho

Estava escuro lá fora, exceto por uma luz muito fraca sobre a cama desarrumada , recém colocada no jardim para comtemplar as estrelas! Atitude pouco comum , um tanto impulsiva mas surpreendentemente romântica. Fiquei observando atrás da cadeira de balanço na varanda lateral acompanhando cada movimento.Ela dançava na grama coberta de  orvalho , graciosamente arrumando cada detalhe para aquele momento , seus pés atingiram uma cor avermelhada por causa do frio , e de certa forma aquilo lhe dava um toque delicamente sexy. Seu corpo coberto por um roupão azul marinho realçava a cor de seus enormes olhos , enquanto o cabelo pendia-se sob seu belo rosto e pairava nos lábios vermelhos e bem delineados. Caminhei fascinadamente sem fazer nenhum ruído e parei perto cama. Observei-a e me deitei , senti aquele cheiro suave dos lençóis e ergui meus olhos para o céu que estava recheado de estrelas , era de tirar o fôlego,  entre elas uma brilhava mais e decidi dar o nome dela para tal. Fechei os olhos sentindo a brisa esperando ela voltar , minutos depois adormeci. Despertei rapidamente sentindo pelo vento aquele cheirinho doce e conhecido de seu perfume , ela se aproximava , mas eu decidi não abri os olhos. Ela se deitou ao meu lado , meu coração parou, comecei a sentir sua respiração quente e lenta no meu rosto , e finalmente seus lábios tocaram os meus, eram macios e estavam gelados , tinha um gosto adocicado a sensação era divina. Algo que nunca senti antes ocorreu naquela hora , meu corpo respondeu com arrepios e meu coração acelerou como nunca. Abri meus olhos e os ergui em busca dos dela, mas não os encontrei. Sentei rapidamente e ela se dissipou como fumaça. Pisquei 3 vezes , estava no meu quarto, era uma manhã ensolarada mas fresca , abri a janela respirei fundo sentindo o calor tocar minha pele. Caminhei ate sair do quarto , olhei pra trás , minha cama estava desarrumada , eu sorri e senti aquele gosto doce nos meus lábios e então eu me dei conta que de alguma forma , meu sonho havia sido real.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Lareira



A lareira ardia diante dos meus olhos pesados e do meu corpo nu, corri os olhos pelo quarto e a neve  ainda caia , me espreguicei no meio dos lençóis e levantei. A janela estava meio aberta , fazendo as cortinas voarem, ecoava-se um som contra as paredes e junto a esse ritmo meu corpo se arrepiava e tremia. Caminhei devagar ate lá, fechei a janela e abri as cortinas, encostei a palma das mãos no vidro gelado, depois encostei o peito nu e pude sentir uma corrente elétrica como resposta do meu corpo. Sentei ali e descansei as mãos no meu colo, soprei a janela fazendo a vidraça embaçar, comecei a rabisca-la e imaginar que talvez ela não demorasse a voltar. Ouvi um barulho vindo do closet e fui verificar . Quando entrei, ela estava lá , sorrindo pra mim com as mãos cheias de fotos que ela havia feito enquanto eu dormia, quando o vento me fez arrepiar e tremer , com meu corpo contra o vidro gelado e as ultimas, que eram meus rabiscos na janela, aparecendo ao lado de minhas costas nua e meu cabelo sobre os seios. Uma pequena lágrima queimou em minha pele e em seguida seus compridos dedos a enxugaram e um beijo foi deixado ali. Segurei sua mão a beijei e deixei meu rosto descansar por um momento, fui surpreendida por um abraço, meu peito contra sua roupa quente, suas mãos enrolando meu cabelo, permanecemos assim por alguns minutos. Mesmo não querendo sair daquele aconchego de seus braços , estendi a mão e  convidei-a a se deitar comigo. Ela se despiu e juntou-se a mim e aos lençóis com o nosso perfume. Ganhei um beijo casto e doce nos lábios e me virei para observar a lareira mais uma vez . Ela me abraçou , entrelaçamos as mãos e eu deixei a chama sumir nos meus olhos e eternizei o momento em um sonho que chegou antes mesmo de eu adormecer.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Chalé

Do lado de fora do chalé fazia muito frio, não havia sinal de sua chegada. Sentei na cadeira pendurada, pelas enormes madeiras do deck, esperando-a. O vento soprava alto no meu ouvido e em resposta meu corpo estremecia, o tempo passou tāo depressa que eu nem me dei conta de que adormecera, até ser acordada por um beijo gelado no alto da minha testa. Abri os olhos com dificuldade e sussurrei um oi. Ela me estendeu as mãos e entramos em silêncio, me sentei na cama, juntei minhas mãos e comecei a esfregá-las devagar  para aquece-las. Ela se aproximou, colocou minhas mãos entre as suas e as soprou calmamente, o vento quente que vinha de sua boca vermelha, as aqueceu rapidamente. Minha alma se juntou ao calor , fechei os olhos me entregando aquela sensação. Quando os abri novamente os dela já brilhavam em resposta ao encontro dos meus, respirei fundo e movimentei os lábios dizendo 'te amo', mas eu sabia que ela não podia ver , pois a única luz no quarto vinha de um feixe da janela lateral banhada pela enorme lua. Nos despimos juntas e deitamos naquele ninho de travesseiros brancos, como a neve no chão do lado de fora e adormecemos em seguida. Acordei sufocada com seus braços apertando meu peito, levantei com cautela para não acorda-la. A vista do lado de lá de minha janela, me presenteou com um nascer do sol de tirar o fôlego. Fiz algumas fotos de beleza espetacular e resolvi fotografá-la também. Ela dormia com a mão perto dos lábios, o cabelo bagunçado de uma maneira elegante e com o lençol embolado ao seu corpo. Preguei todas as fotos em uma parede ao lado da cama, para quando ela acordar ser recebida por tamanha plenitude, que era seu rosto, de vários ângulos e jeitos, perfeitos e diferentes! Sua jaqueta estava jogada sobre a cadeira marfim ao lado da lareira , peguei-a sentindo aquele cheiro conhecido de seu perfume , que era o meu favorito. Juntei-a ao meu corpo e dancei pelo quarto, parei quando ela me agarrou de surpresa e disse que eu estava linda, com aquele sorriso matinal de deixar as minhas pernas sem movimento, ganhei um beijo doce e sorri de volta. Após correr seus belos dedos pelas fotos,  abrimos a janela e sentamos com a nudez ao sol, contemplando aquela plenitude e desejando dali, não mais sair.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Alma

  Era noite chuvosa e fria em uma cidade de clima extremamente quente, um fenômeno nada comum para tal. Foi então que me peguei perdida e totalmente imersa em um mundo de lembranças, ora dolorosas e vastas, ora boas e marcantes, ao qual eu não me recordava que fazia parte. Decidi deixar minha mente me guiar, meus olhos logo se ergueram em direção a minha janela recém coberta por gotas da chuva fria, que o céu estava claro e limpo mas não havia uma estrela sequer para fazer com que tamanho infinito, bem além do que  podemos tocar e medir, ficasse mais iluminado e brilhoso. Era de tal maneira que minha alma estava, clara, mas sem brilho.Optei por continuar a buscar, não mais no céu, algo que pudesse fazer a minha alma brilhar da forma que em momentos o céu brilhava quando coberto por estrelas mesmo sem a lua. Vasculhei estantes em busca de livros que pudessem levantar minha auto estima, escutei musicas antigas, recordei de momentos registrados em fotografias cobertas por pó em algum quadro ou parede, mas nada foi suficiente para tal fim. Deitei no jardim sentindo o frio do orvalho que cobria a grama na minha pele quente, fechei os olhos e deixei minha mente viajar no tempo. Parei na minha infância, risadas, brincadeiras, feridas beijadas pela mamãe, pureza e um vasto campo de imaginação e criatividade para um ser tão pequeno. Vaguei por ali, sorri sentindo a brisa gelada tocando meu rosto. Abri os olhos e voltei ao presente procurando, qualquer que fosse, um motivo para dar um brilho inesgotável a minh'alma. Foi então que notei o quanto minha alma parecia assombrada e fria e percebi que dali nada sairia, mas de certa forma minha alma apagada estava em paz porque sabia que havia dado todo o seu brilho no lugar de alguém que amara.